Carro, táxi ou Uber? E os elétricos? Qual escolha dói menos no bolso?

Ouça a participação da comentarista Neyla Tardin

Publicado em 24/06/2022 às 12h00
Posto de combustível, gasolina, etanol, abastecimento
Posto de combustível em Vitória. Crédito: Vitor Jubini

Carro, táxi ou Uber? E os elétricos? Qual escolha dói menos no bolso? Desde o último sábado (18), os combustíveis estão mais caros no Brasil. A Petrobras elevou o valor da gasolina vendida às distribuidoras de de R$ 3,86 para R$ 4,06 - alta de 5,18%. Para o diesel, preço subiu de R$ 4,91 para R$ 5,61 por litro - alta de 14,26%. Ou seja, abastecer o carro vai pesar ainda mais no bolso do consumidor. Neste meio tempo, o ano de 2035 deverá marcar o fim da venda de carros novos com motores a combustão na Europa, já que o Parlamento Europeu votou para proibir a venda de veículos novos movidos à combustíveis fósseis a partir desta data. Assunto para Neyla Tardin, nesta edição do Conversa de Bolso.

É uma mudança de cultura. Importante, essencial, urgente, necessária. O preço de um carro elétrico pode ser até 30% mais alto do que o preço do carro a combustão. Mas sem dúvida, isso não se deve apenas ao custo de fabricação. Deve-se também à concorrência. A venda de carros elétricos no Brasil ainda é baixa, se comparada ao comércio de carros de combustão. Se a concorrência cresce, o preço do elétrico tende a baixar no médio ou longo prazo. E essa é a tendência. Alguns estados brasileiros já oferecem desonerações fiscais para a produção de elétricos.

Mas a questão aqui é o que dói mais no bolso: ter um carro (elétrico ou a gasolina)? Andar de aplicativo? Vale a pena ter um veículo com a gasolina a R$ 7,60 o litro (preço médio da gasolina no Espírito Santo após o último reajuste nos postos de combustíveis)?

Vantagens de se ter um carro: conforto, conforto, conforto. Se você mora muito longe do trabalho, ter um carro ajuda muito, embora nada o impeça de combinar previamente com um motorista de aplicativo uma rotina de trajetos de ida e volta. Carro representa status e conforto. Traz liberdade. Mas toda liberdade tem seu preço, e o preço de ter um carro costuma ser mais alto do que escolher rodar de aplicativo ou táxi.

O site ValorInveste tem uma calculadora muito interessante para quem quer comparar carro X Uber X táxi. Fiz uma simulação lá com base em um carro com valor de compra de R$ 120 mil, que faz 10 km por litro em média, com licenciamento de R$ 85 anuais, seguro obrigatório de R$ 68, seguro facultativo de R$ 3 mil, zero de multas de trânsito, e IPVA de 3% do valor do veículo. O preço médio da gasolina é R$ 7,60 no Espírito Santo, segundo levantamento da Secretaria da Fazenda.

Não dá para deixar de fora dessa conta duas coisas: a manutenção do carro e o custo de oportunidade do capital. A depreciação é quanto o carro perde em valor no tempo. Assumi uma taxa de 8% ao ano do valor do veículo, o que dá R$ 9,6 mil por ano para um carro de R$ 120 mil. E o custo de oportunidade é a rentabilidade que você teria caso você não tivesse gastado os R$ 120 mil para comprar o carro. E se você tivesse investido esse dinheiro na poupança? 6,5% ao ano de rentabilidade bruta nominal, ou seja, R$ 780 de ganho por mês.

Nesse caso, o custo do carro por ano saiu a R$ 34.725, ou seja, 30% do valor de compra do automóvel. Fazendo 60 corridas por mês, com uma corrida da R$ 45,75, o custo do táxi sairia a R$ 34.143, um pouquinho mais barato. Mas lembre-se de que considerei que você teve zero multas de trânsito com o carro. Já o custo do Uber, para 60 corridas, com cada corrida saindo a R$ 31,75, sairia a R$ 24.879,97. Nas duas simulações, uber e táxi, o trajeto seria de 15 km.

Enfim, sob as premissas acima, o carro sai mais carro. O carro elétrico sairia mais barato que o carro a combustão em termos de consumo de combustível. Certamente o kwh/litro é bem mais acessível que o km/litro. O que desequilibra a balança desfavoravelmente ao carro elétrico é o preço: ele ainda é mais caro, até 20% mais caro, do que o carro a combustão.

A questão aqui não é só financeira, é também sobre qualidade de vida e meio ambiente. Se é para ter um carro, se cabe no seu bolso incorrer no custo monetário dessa escolha, sugiro que essa decisão seja racional também sob a ótica social e ambiental. Negócios sustentáveis, em vários segmentos não só o de veículos, têm atraído os olhos de muitos investidores-anjos e rodadas de seed capital por aí. O investimento é consciente. O consumo também precisa ser.