Bancão ou fintech: quem dá mais dinheiro para o consumidor e para investidor?

Quem explica é a comentarista Neyla Tardin

Publicado em 14/10/2022 às 11h47
Edifício-sede do Banco Central do Brasil no Setor Bancário Norte, em Brasília. Crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

A concorrência faz um bem enorme para economia. As fintechs democratizaram o sistema financeiro no Brasil, bancarizando cidadãos e desburocratizando processos de abertura de conta, concessão de crédito e investimentos. Até o início dos anos 2000, ninguém acreditava ser possível um banco ter um bom atendimento. Horas de fila para ser atendido pelo caixa. Muitos municípios possuem ainda a famosa lei dos 15 minutos, que limita em 15 minutos o tempo de espera máximo do cliente em fila de atendimento, e 30 minutos em horário de pico. Na década passada, o Banco do Brasil foi condenado pela 10ª Turma Recursal de Belo Horizonte a indenizar um cliente em R$ 5 mil, por tê-lo feito esperar muito. Outros bancões passaram pela mesma situação.

Hoje, esse cenário é menos provável. Resolve-se tudo pelo aplicativo, pela internet. E o mérito disso é das fintechs. As fintechs chegaram de mansinho, gerando desconfiança, mas estão engolindo o mercado. Suas soluções para o consumidor envolvem big data, inteligência artificial, computação em nuvem, blockchain e computação quântica. São modelos de negócios inovadores. E isso chamou a atenção dos bancões, que se viram forçados a rever seus processos e a se tornarem mais digitais. Hoje, em muitas fintecs e bancões, é possível pegar crédito pelo celular. Anos atrás, só na mesa do gerente.

A pergunta é: quem ganha essa batalha, bancões ou fintechs? Qual dos dois é melhor para o cliente? Vamos discutir alguns prós e contras dessas escolhas.

Se você é investidor, é melhor comprar ações de bancões ou de fintechs? Vamos lá. Primeiro, pergunte-se o quanto de risco você está disposto a correr. E saiba que quanto maior o risco, maior deve ser o retorno esperado. Espera-se que um ativo volátil pague mais do que um ativo de renda fixa, caso contrário, ninguém assumiria esse risco. Chamamos isso de prêmio.

Os bancos representam 27% das ações do Ibovespa, índice com os papéis mais líquidos da B3. Há bancões como Santander, Itaú, Bradesco e Banco do Brasil. E há fintechs como a Nubank, listada nos Estados Unidos, mas reconhecida no Brasil. Capixaba, o Banestes também está na B3. O Banco do Brasil, por exemplo, tem market cap (valor de mercado das ações) de R$ 112.3 bilhões, enquanto o Banestes vale em ações R$ 1.84 bilhão, e o Nubank, o caçula fintech, vale US$ 19,5 bilhões (em dólares). O BB paga um yield de dividendo de 4,16%; o Banestes, 9%; e o Nubank ainda não tem uma política consolidada de dividendos.

Em geral, bancos menores e fintechs ainda valem menos que os bancos, são ações mais baratas. E também em geral, small caps e fintechs pagam menos dividendos. Mas vão crescer? Não dá para saber. O que sabemos é que há uma mata a ser desbravada quando o assunto é tecnologia em finanças. Tem campo para explodir. Mas é preciso investimento e eficiência de custos e preços. É preciso saber se o modelo digital é sustentável. Nos últimos cinco anos, em média, os papéis do Banco do Brasil renderam 0.46% ao mês; o NU rendeu -6.4% ao mês (tem menos do que cinco anos de bolsa); e o Banestes remunerou 1.3% ao mês. Os dados são do Yahoo Finance. Um disclaimer importante: Investimento médio não é realização, e investimento em bolsa é longo prazo.

Se você é cliente ou consumidor saiba que, em média, tomar empréstimos em fintechs exige menos garantias e costuma ser mais rápido. E as tarifas dos bancões são também, em média, mais caras. Tem bancão cobrando R$ 59 por mês apenas como taxa de manutenção da conta corrente. E, nós sabemos, há a opção da conta cidadã, em que é cobrada zero de taxa de manutenção. Em seu site, o Banco Central faz um comparativo de taxas cobradas pelas instituições financeiras no Brasil, por tipo de serviço. A comparabilidade é difícil, porque os serviços são parecidos, mas recebem nomes diferentes. Mas a tabela nos dá a sensação de que os bancões cobram mais caro em tarifas e têm muito mais opções de tarifas que as fintechs. Os bancões ainda parecem muito burocratizados.

Além disso, via fintech, parece ser mais simples resolver problemas de cartões extraviados e fraudes de conta. Os bancões têm mais reclamações do consumidor nos canais de atendimento, mas isso é esperado, porque eles estão em maior número e têm uma base de clientes muito maior. Um ponto a favor dos bancões é que eles são mais seguros. Embora burocratizados, o risco de insolvência dos bancos grandes é menor se comparada às small caps financeiras.

Na dúvida, tenha conta em mais de um banco (desde que isso não onere seu orçamento em tarifas). Vale a pena conhecer as alternativas. A análise é da comentarista Neyla Tardin.