As histórias de Cachoeiro de Itapemirim, Castelo e Vargem Alta

Ouça a participação do comentarista Rafael Simões

Publicado em 30/06/2025 às 11h57
Vista de Cachoeiro de Itapemirim: entre as cidades de 100 mil a 500 mil habitantes, município ficou na 30ª posição do país no ranking Connected Smart Cities 2021
Vista de Cachoeiro de Itapemirim: entre as cidades de 100 mil a 500 mil habitantes, município ficou na 30ª posição do país no ranking Connected Smart Cities 2021. Crédito: PMCI/ Divulgação

Nesta edição do "Espírito Santo: Que História É Essa?", o destaque vem da microrregião 5 do Espírito Santo (Central Sul): Cachoeiro de Itapemirim, Castelo e Vargem Alta. Vamos às histórias:

Cachoeiro de Itapemirim

Gentílico: Cachoeirense

A história de Cachoeiro de Itapemirim começa como a de muitas outras cidades brasileiras – às margens de um rio e no ritmo do garimpo do ouro e da cultura cafeeira. A cidade localiza-se no sul do estado do Espírito Santo e se destaca por ser a mais importante cidade dessa região do ponto de vista econômico, status construído a partir do fim do século XIX, em decorrência da expansão cafeeira.

Em Cachoeiro, havia um porto que recebia todo o café produzido na região sul, uma vez que se localizava no último trecho navegável do rio Itapemirim. O café possibilitou a construção de vias de comunicação, especialmente a via férrea, a primeira da província; da luz elétrica, a primeira do estado; e de outros símbolos do “progresso” em plena expansão capitalista, além de incrementos na área de urbanização.

O nome da cidade deriva de um aspecto geográfico: os cachoeiros ou as cachoeiras do rio Itapemirim, rio que corta a cidade. Por causa desse aspecto geográfico, a cidade, como muitas outras do Brasil, desenvolveu-se econômica e urbanisticamente a partir do rio. Os cachoeirenses preferem o termo

Itapemirim – caminho de água com pedras que formam pequenas cachoeiras. O nome do município passou por um processo de evolução, sempre se referindo às pequenas cachoeiras do Rio Itapemirim. Em 1885, já se escrevia o nome certo e por extenso. Alfredo Mário Pinto, nos “Apontamentos para o Dicionário Geográfico do Brasil”, registrou: “Da Câmara Municipal dessa cidades recebemos, em 1884, a seguinte informação: A sede do município é a cidade do Cachoeiro de Itapemirim, que tem recente data, pois que a primeira casa construída foi no ano de 1846”.

Oficialmente, a história de Cachoeiro de Itapemirim teve início no ano de 1812, quando o donatário da capitania do Estado, Francisco Alberto Rubim, recebeu a tarefa de desenvolver o povoamento em nosso Estado, nesta região, habitada pelos índios puris e botocudos. O grande dado motivador, no séc. XIX, era o ouro descoberto no espaço que compreende, hoje, o município de Castelo.

O povoamento começou em um ponto do vale, às margens do rio Itapemirim, que inspirou seu nome. A colonização expandiu-se com a formação dos primeiros núcleos populacionais com pequenas plantações de mandioca, bananeiras e cana-de-açúcar. Os fazendeiros de Itapemirim começavam a estender suas propriedades pelas margens do rio, sendo que, onde hoje onde está há nossa cidade, havia fazendas pertencentes, outrora, a alguns deles, entre os quais citamos Joaquim Marcelino da Silva Lima (Barão de Itapemirim), figura principal do sul do Estado naquela época, e Manoel José Esteves de Lima, um português que criou cidades e povoações no sul do Estado.

Logo após o ciclo do ouro, veio o da cana-de-açúcar e do café, com os fazendeiros portugueses que tinham, como mão de obra, os escravos. Com a abolição da escravatura, teve início a imigração de italianos e alemães que entraram pelo porto de Itapemirim, subindo o rio do mesmo nome, para ocupar o lugar dos escravos e formar colônias e, posteriormente, desbravar as terras disponíveis. As primeiras casas do arraial de Cachoeiro de Itapemirim foram levantadas no início de 1846, na altura do atual bairro de Baiminas, sendo instalado o Município de Cachoeiro de Itapemirim a 25 de março de 1867, desmembrando-se da Vila de Itapemirim. Grandes latifundiários dominavam a região de Itapemirim. Da Vila, estendiam sua soberania até Cachoeiro. Os Gomes Bittencourt, que eram adversários políticos de Silva Lima, subiram pela margem esquerda até o atual bairro Aquidaban, enquanto o Barão de Itapemirim dominava toda margem direita, até as terras do Bananal próximas a Duas Barras. Durante a fase da cana-de-açúcar, Cachoeiro era um povoado perdido à margem do Rio Itapemirim. O início da transformação ocorreu na década de 50 do século passado. De um lado do rio, havia 20 fazendas de açúcar, em sua maioria, desenvolvidas a vapor. Essas fazendas abasteciam de aguardente e açúcar toda a província e exportavam, ainda, em grande quantidade, para o Rio de Janeiro. A arrecadação do sul do Estado era, basicamente, provinda do café e de cana, que já vivia sua fase de decadência.

A primeira casa construída em Cachoeiro de Itapemirim foi de Manoel de Jesus Lacerda, no ano de 1846. Logo depois, foram surgindo as primeiras casas comerciais no centro da Vila próxima à antiga matriz do Senhor dos Passos, sede da freguesia de São Pedro de Cachoeiro de Itapemirim. Pelos seus empreendimentos e coragem, esse primeiro núcleo de povoadores foi bastante elogiado junto à Corte pelo Presidente da Província, Dr. Sebastião Machado Nunes, quando de sua visita à região do Itapemirim.

O Dr. Manoel Cipriano da Franca Horta estabeleceu a primeira casa de comércio, numa das dependências do Armazém do Barão de Itapemirim, após abrir um pequeno colégio que teve curta duração. A partir da criação da freguesia de São Pedro das Caxoeiras do Itapemirim, em 16 de julho de 1856, o lugarejo não parou de crescer. O povoado contava com cerca de três mil e quinhentas pessoas, das quais, aproximadamente, duzentas e dez pessoas eram escravas. O comércio foi, aos poucos, desenvolvendo-se e surgiram as casas comerciais de Loiola & Silva, Jorge & Irmão, Quintais & Viveiros, Jerônimo Francisco, Bernardino Ferreira Rios, Luiz Bernardino da Costa (que tinha um serviço de pranchas para transporte de mercadorias), Marques Guardia & Cia., Pedro Teixeira Duarte, Casa Mineira, Casa Samuel (do francês Samuel Levy, que aqui chegou vendendo joias) e Manoel José de Araújo Machado.

No começo do século XX, a cidade era, na verdade, o centro econômico e demográfico do Estado. A oligarquia local queria controlar as cordas da política. Além disso, rumores de que a capital estava no lugar errado ganhavam fôlego com cada nova precocidade dos cachoeirenses. Para eles, o Palácio deveria estar mais próximo do café que o sustentava.

A prosperidade de Cachoeiro tem origem em fatores geográficos. O município se desenvolveu no último ponto navegável do Rio Itapemirim. É fruto da expansão da produção de café do Norte do Rio de Janeiro, que chega ao Sul do Espírito Santo no final do século XX. Era o centro escoador de toda produção do Vale do Itapemirim. Ou seja, as sacas não paravam de chegar e partir. O café ia para o Rio de Janeiro, e acabou trazendo justamente o Rio de Janeiro. A proximidade com a Capital da República acabou por deixar Cachoeiro e os cachoeirenses ainda mais vaidosos.

Nos primórdios de Cachoeiro, isto é, em 1868, o seu vigário Manoel Leite Sampaio Melo relatava, ao presidente da Província, que o Rio Itapemirim, nas ocasiões das secas, forçava os canoeiros a levarem pás e enxadas para irem abrindo caminho em valas, minuciando: ” A razão é ser ele todo cheio de voltas e bastante entulhado de paus; tem meses que fazem as viagens em quatro dias e outros em oito e nove”. A findar a Guerra do Paraguai, o Capitão Henrique Deslandes, paranaense de Paranaguá, que lutara como voluntário, foi-se estabelecer no Espírito Santo, montando atelier fotográfico em Vitória. De lá, transferiu-se para Vila de Itapemirim. O progresso da região, aquele movimento crescente de cargas e passageiros, animou-o a pleitear, junto ao Governo, concessão a vapor do Rio Itapemirim, tendo firmado contrato com lei provincial de 1872. O Capitão Deslandes fez uma sociedade com Manoel Ferreira Braga (Braga & Deslandes), adquirido, na Barra do Itapemirim, o trapiche de Silva Lima & Braga, cujo primeiro proprietário fora o Barão de Itapemirim. Somente a 3 de abril do ano seguinte ao compromisso firmado, era inaugurado o serviço, com quatro vapores: dois de rodas e dois de hélices.

Pouco depois, foi providenciada a aquisição de mais dois vapores e uma barca de passageiros, e encomendado outro vapor na Inglaterra. Muito embora o calado das embarcações atendesse ao especificado no contrato, nas grandes secas, a navegação era completamente interrompida durante meses. A acomodação dos passageiros era o que deixava muito a desejar: era apertada na ré, com todo o desconforto. Tantos tropeços relegaram o vapor ao desprezo dos passageiros e do transporte de cargas, permanecendo quase que sempre só para carregar malas do correio. Em três de abril do ano seguinte, Simão Rodrigues Soares, da Barra do Itapemirim, conseguiu dos cofres geral e provincial reinaugurar a navegação com um novo vaporzinho Três de Abril.

A ideia do projeto com a ferrovia foi apresentada à Assembleia Provincial pelo historiador, jornalista e deputado estadual, Basílio Carvalho Daemon, em 31 de outubro de 1872. Portanto, quatorze anos antes de bater a primeira estaca. A princípio, a concessão foi dada ao Capitão Henrique Deslandes e depois transferida ao Visconde de São Salvador de Matosinhos, presidente da Companhia de Navegação Espírito Santo e Caravelas. Um vapor foi fretado para transportar de Antuérpia até a Barra do Itapemirim parte do material da ferrovia. Em 8 de dezembro de 1886, o engenheiro Pedro Scherer iniciou a montagem da locomotiva e o assentamento dos trilhos. A estrada tinha 71 km de extensão. Partia da Vila de Cachoeiro até a estação do entroncamento de Matosinhos, em Duas Barras, de onde seguia em um ramal para Castelo e em outro para Alegre. A ferrovia tinha bitola estreita e três locomotivas Baldwin, pesando cada uma 27 toneladas. As opções eram um carro de primeira classe; dois mistos; dois de segunda classe; dois de correio e bagagem; 18 vagões fechados; seis abertos; um para transporte de animais; um para explosivos; dois para madeiras e seis de lastros. Anos mais tarde, a linha da estrada de ferro Caravelas passou a ser propriedade do Lóide Brasileiro. Em 1907 se submeteu ao poder da Leopoldina, já que estava hipotecada a uma empresa de Londres. O traçado de Cachoeiro a Alegre passou a integrar o chamado sul da Leopoldina, ligando Cachoeiro a Carangola (Estado de Minas Gerais). O novo ramal até Minas foi inaugurado em 24 de novembro de 1913. Já naquela época, a capital capixaba do café tinha vínculos mais estreitos com o Rio de Janeiro, a capital Federal, do que com Vitória. No final do século passado, os trilhos do Rio e de Vitória se aproximaram de Cachoeiro. Com dificuldades, a estrada de Ferro Sul concluiu seu primeiro trecho em 1895: o de Vitória-Viana.

Em 1900 estava pronto o trecho Vitória -Domingos Martins. Em 1910 a ferrovia sulista completava a tão sonhada ligação entre Vitória e Cachoeiro. Como tinha passado tanto tempo, tudo já havia mudado. Desde 1903 já tinham chegado a Cachoeiro os trens da Leopoldina, com matriz no Rio, contribuindo, assim, para fortalecer os laços econômicos entre o Rio de Janeiro e a nossa cidade. Até meados do século XIX, o povoamento deste território e suas imediações tiveram pouco desenvolvimento, pois, iniciava-se a expansão cafeeira mineiro-fluminense na região. Na realidade, seu povoamento ocorreu nas primeiras décadas do século XVIII pela incansável busca de ouro em Castelo. Entretanto, mesmo sendo o ouro a base da economia naquele momento, foi o café o grande responsável pelo crescimento desta região. Geograficamente, o acesso à região era difícil, caracterizada como região montanhosa, com seus vales em garganta, bastante inclinados, formando ladeiras e, ainda, coberta de florestas fechadas. Isso contribuiu para que, até o século XIX, ficasse desconhecida e sob posse dos nativos. O combate aos indígenas tornou-se mais intenso, dificultando o estabelecimento dos mineradores.

Com o decorrer do tempo, Cachoeiro de Itapemirim transformou-se em entreposto de comercialização dos produtos agrícolas, tornando-se centro urbano, com funções mais diversificadas com o advento da chegada do café. A exploração desse interior montanhoso veio das regiões do sul do Rio de Janeiro e oeste de Minas Gerais, por serem limites com o sul do Estado do Espírito Santo. O processo de expansão agrícola, liderado pelo café, iniciou-se por meio dos desmatamentos das florestas para a formação dos cafezais, seguindo o curso do Rio Itapemirim, vindos do Rio e de Minas.

O Estado do Espírito Santo é marcado, historicamente, por grandes correntes imigratórias. As primeiras que se destacam são as formadas por austríacos e alemães. Especificamente para o sul do Estado, dirigiram-se os italianos, solidificando não o só o jeito de viver, mas, em especial, o estilo da produção cafeeira em bases familiares, uma vez que a Abolição da Escravatura ocorreu no final do século XIX, o regime passou a ser o de relação de parceria.

O ramal de extensão da Rede Ferroviária Leopoldina implantado em 1912, servia para o escoamento da produção cafeeira. A ferrovia era ligada ao Estado de Minas Gerais e ao Município de Castelo e o porto Itapemirim era também utilizado para o escoamento. Com a decadência do café, a atividade primária que substituiu foi a pecuária, sobretudo, a leiteira. A criação da Cooperativa de Laticínio (SELITA), antecedida pela fundação do Sindicato Rural dos Lavradores e Criadores, em 1934, foi de fundamental importância para que a pecuária se torna-se base de apoio para a economia do Sul do Espírito Santo. Apesar da predominância da pecuária apareceu, recentemente, nova cafeicultura com o plantio em curva de nível, utilizando técnicas mais avançadas com o apoio de órgãos federais.

Cachoeirense chama a cidade de “A capital secreta do mundo”. Há bairrismo nisso. Alguns fatos aconteceram em Cachoeiro que a destacaram no cenário capixaba, até, no nacional. A cidade foi a décima cidade do país e a primeira do Estado a adquirir luz elétrica, com uma usina instalada na Ilha da Luz. Sua situação geográfica favoreceu, também, a implantação de indústrias devido à facilidade dos meios de transporte, além das condições naturais propícias. Inicialmente, as primeiras indústrias eram estatais e com maquinários importados, onde algumas chegaram a funcionar e outras foram passadas para iniciativa privada. Os dados do censo demostraram que até 1960, o crescimento desse setor foi lento, porém gradual. Mas, de 1960 a 1970, o incremento foi bem maior no que diz respeito ao número de estabelecimentos que surgiram, número de pessoal ocupado e o valor das transformações industriais.

A partir da década de oitenta até os dias de hoje, o ramo de maior desenvoltura na economia municipal é o de extração de minerais, classificando o município como a Capital do Mármore e Granito. Hoje, o Município de Cachoeiro de Itapemirim é o núcleo urbano mais importante do sul do Estado do Espírito Santo, estando situado na sua parte central a uma distância de 136 km de Vitória, beneficiado por boas rodovias, que permitem a concentração e a distribuição de bens e serviços para municípios vizinhos. Cachoeiro de Itapemirim polariza, econômica e politicamente, um conjunto de 20 municípios, que formam a região macro sul, onde residem 15,7% da população capixaba, ocupando 17,7% do território estadual.

Nos últimos anos, Cachoeiro de Itapemirim acelerou o seu processo de modernização ao tornar-se o polo de desenvolvimento econômico para o sul do Estado do Espírito Santo, sendo o responsável pelo abastecimento de 80% do mercado brasileiro de mármore. A década de 90 ficou marcada, economicamente, pela indústria de extração, beneficiamento do mármore e granito, acrescentando-se as rochas ornamentais. Esse segmento da economia tem sido o maior responsável pela geração de empregos para a população. Estima-se um total de 27.900 empregos diretos nesta região.

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Castelo

Data de Emancipação: 25/12/1928

Gentílico: Castelense

Por que Castelo? O nome da cidade tem sua origem relacionada aos primeiros aventureiros em busca do ouro. As fontes históricas relatam que o nome surgiu quando um dos exploradores se deparou com montanhas semelhantes a um castelo de estilo feudal. Para reforçar, a serra ao lado desta formação tinha o aspecto de muralhas no entorno de um castelo. Essa formação rochosa é conhecida atualmente como Pico do Forno Grande.

São duas as hipóteses que tentam explicar os primórdios da colonização no município de Castelo.

Alguns pesquisadores atribuem aos padres jesuítas o ônus da fundação dos primeiros povoados na região das Serras do Castelo, no ano de 1625.

No entanto, uma outra perspectiva interpretativa atribui aos bandeirantes tal façanha. Essa dúvida atravessa a história e persiste até hoje.

Isto porque não há, ainda, suporte documental histórico para que uma delas torne-se majoritária.

Primeira hipótese: a ação dos Jesuítas. A Companhia de Jesus foi fundada no ano de 1534 pelo espanhol Inácio de Loyola. A Ordem foi criada no contexto da Reforma Católica, também denominada Contra Reforma, em oposição à Reforma Protestante iniciada por Martinho Lutero. Desde o início os Jesuítas, que também ficaram conhecidos como “padres soldados”, se destacaram por seu trabalho missionário e educacional. Rapidamente ganharam força dentro da Europa e expandiram-se por diversos países e continentes. Eles chegaram ao Brasil no ano de 1549, trazidos pelo

Governador Geral Thomé de Souza.

Chefiados por Frei Manuel da Nóbrega foram os responsáveis pela fundação de São Paulo de Piratininga e de seu famoso colégio. Dalí partiram para a sua extensa obra de catequização indígena, fundando aldeamentos chamados de missões. No Espírito Santo, os jesuítas fundaram escolas e aldeamentos em vários lugares. Nessa empreitada destacou-se a figura do padre José de Anchieta, que chegou ao Brasil em 1553. Junto com ele vieram mais seis padres jesuítas, todos doentes. Em nossa região, por volta de 1625, os jesuítas teriam fundado as Missões de Monte Castello, composta por quatro reduções: a do Caxixe, do Ribeirão, a da Barra do Rio Castelo e a de Salgado.

Na região do “Castello” também foi construída uma igreja em homenagem a Nossa Senhora do Amparo. Ela teria sido a primeira no interior da Capitania do Espírito Santo. Muitas controvérsias cercam a presença dos jesuítas nas Serras do Castelo. Alguns estudiosos acreditam que, para além da catequese indígena e das atividades agrícolas, os padres também estavam em busca de ouro. Entretanto, até hoje não foi encontrada nenhuma prova de que eles tenham iniciado alguma atividade de mineração.

Segunda hipótese: os bandeirantes. A busca pelo ouro motivou aventureiros de todas as partes da Colônia a enveredarem-se pelo interior do território brasileiro. Abandonando o litoral e arriscando toda a sorte nessa jornada, os bandeirantes abriram trilhas na densa floresta e, por volta de 1695, lograram êxito em sua jornada, descobrindo as primeiras pepitas na região das Gerais. Embora tenha havido uma intensa corrida em direção às Gerais, alguns bandeirantes seguiram outros caminhos em busca dos metais preciosos, como foi o caso do bandeirante Paulista Pedro Bueno Cacunda.

Cacunda foi o pioneiro da atividade de exploração do ouro nas “Serras do Castelo” e nos iniciais do século XVIII, fundou um arraial denominado Santana, na região hoje conhecida por Fazenda da Povoação. O povoado tornou-se referência para a prática da mineração, contando com mais de duzentas pessoas, criação de animais e intensa produção de alimentos.

O conflito com os padres jesuítas, as dificuldades na lida com os nativos, a natureza inóspita e a falta de apoio da Coroa portuguesa abateram os ânimos do bandeirante Pedro Bueno Cacunda que, três décadas mais tarde, se retira da região e vai tentar a sorte em outras terras. Mesmo após a saída de Pedro Bueno Cacunda da Região das Serras do Castello, a atividade mineradora continuou, embora não fossem raros os conflitos entre índios e garimpeiros.

Neste cenário de animosidades, destacaram-se os padres jesuítas. Eles foram os responsáveis por manter, ao longo de alguns anos, o frágil equilíbrio entre os grupos da região. Entretanto, com a expulsão da Ordem Inaciana do Brasil, no ano de 1759, a trégua nas relações entre os nativos e exploradores foi rompida, fato que resultou em inúmeras batalhas.

A mais sangrenta de todas ocorreu no ano de 1771, na entrada da Gruta do Limoeiro, e os indígenas saíram vitoriosos, obrigando os exploradores a se refugiarem no Baixo Itapemirim. Os constantes ataques indígenas colaboraram para o abandono da região até o início do século XIX. No entanto, a esperança de fazer da região um grande centro da exploração do ouro nunca deixou de existir.

Em 1816 uma Carta Régia ordenava ao Governador do estado Francisco Alberto Rubim a “adiantar os exames, a descoberta e a lavra das Minas do Castelo”. Apesar de todos os esforços empreendidos, por volta de 1830 havia cessado a busca intensiva pelo metal precioso. A aventura continuou apenas pela iniciativa de alguns ousados garimpeiros, atravessando o tempo e chegando até as primeiras décadas do século XX.

Ainda hoje é possível encontrar em toda a região vestígios da exploração do ouro: rios com leitos desviados, canais entalhados na pedra, sulcos profundos nas montanhas, montes de cascalhos aglomerados, além dos próprios nomes de algumas comunidades: Bateia, Patrimônio do Ouro, Fazenda da Prata, Córrego da Prata.

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Vargem Alta

Gentílico: Vargem altense

A criação do município se deu através da Lei n° 4.063, de 6 de maio de 1988. A instalação se deu em 1° de janeiro de 1989. O município de origem foi

Cachoeiro de Itapemirim. O município de Vargem Alta possui uma área de 417 km², equivalente a 0,91% do território estadual. Limita-se ao norte com o município de Domingos Martins; ao sul, com Itapemirim; a leste, com Rio Novo do Sul e Alfredo Chaves e a oeste, com Cachoeiro de Itapemirim e Castelo. Distante de Vitória cerca de 136 quilômetros.

Além da sede, com altitude de 620 metros, é compreendido pelo distrito de Castelinho, Jaciguá, Prosperidade e São José de Fruteiras. O relevo apresentado varia de fortemente ondulado a montanhoso, possuindo quedas d’água que formam inúmeras cachoeiras e corredeiras. O ponto mais elevado é a pedra do Canudal, com altitude de 870 metros. As bacias que compõem a paisagem hidrográfica do município são as dos rios Novo e Itapemirim, cujas áreas são de 184 e 233 km², respectivamente, destacando-se como principais rios o Fruteiras e o Novo.

No início da colonização portuguesa instalaram-se fazendas escravocratas na região, mas estas foram desativadas antes do início da imigração italiana no século XIX. A colonização no município se deu com a doação de terras na época do Segundo Império (D. Pedro II). O clima da região fez com que uma parte dos

imigrantes italianos da colônia de Rio Novo do Sul iniciasse uma migração interna para a região que compreende hoje os municípios de Vargem Alta, Venda Nova do Imigrante e outros.

Estes imigrantes primeiramente se estabeleceram nas comunidades de São João, Boa Esperança e Concórdia. E progressivamente foram conquistadas Vargem Alta, Prosperidade, Pombal, São José de Fruteiras e Castelinho. O município de Vargem Alta é cortado longitudinalmente de norte a sul pela Rodovia ES-164 (Rodovia Geraldo Sartório).

A Estrada de Ferro Leopoldina também cruza o território e foi a responsável em grande parte da história do município pelo seu desenvolvimento e também pela formação dos núcleos populacionais surgidos a partir de sua construção. No município, mais exatamente da localidade de Prosperidade, foi extraído em 1957 o primeiro bloco de mármore no estado do Espírito Santo, inaugurando a fase de exploração e beneficiamento de rochas ornamentais do Estado. A emancipação se deu em março de 1988 através de plebiscito onde 87% da população foi favorável a separação do município de Cachoeiro de Itapemirim.

[fontes: sites das prefeituras, Câmaras municipais; Wikipédia]

Informações sobre a Microrregião 5 – Central Sul

A microrregião Central Sul é composta por sete municípios, a saber: Castelo (36.930), Vargem Alta (19.563), Cachoeiro do Itapemirim (185.784), Muqui

(13.745), Atílio Vivácqua (10.540), Apiacá (7.223) e Mimoso do Sul (24.475). A região ocupa 8,10% do território estadual e tem uma população de 298.260 habitantes (IBGE, 2022), o que representa cerca 8,5% da população total do estado. O município de Cachoeiro do Itapemirim tem grande influência na rede de cidades do sul do estado. A sua área de influência na rede de cidades do estado extrapola a própria microrregião, chegando a atingir alguns municípios mineiros e do norte fluminense.

O PIB da microrregião corresponde a 6,59% do PIB estadual. No tocante aos setores, destacam-se as atividades de serviços, com 63%, seguido pela indústria, com 21%, impostos líquidos de subsídios sobre produtos, com 11%, e, por fim, a agropecuária, com uma pequena participação de apenas 5%.

Trata-se de uma das cadeias produtivas mais completas do Espírito Santo, inclusive com a produção de equipamentos e acessórios para a extração e o beneficiamento das rochas. O PIB per capita da microrregião Central Sul é de R$ 20.911,80, sendo que o estado do Espírito Santo apresenta um PIB per capita de R$ 27.487,45. O PIB per capita pode ser desagregado por município, destacando-se o município de Castelo com maior PIB entre os municípios da região, com R$ 23.339,54, e em segundo lugar, Cachoeiro de Itapemirim, com R$ 22.904,87. O município de Muqui apresenta o menor PIB per capita da região, com R$ 10.783,05.

A receita líquida da microrregião Central Sul é de R$ 2.016,70, sendo que a receita líquida do Espírito Santo é de R$ 2.524,19. Se considerado o contexto dos municípios que compõem a microrregião, o município de Apiacá é o que apresenta a maior receita líquida per capita, com R$ 3.401,83, seguido pelo município de Atílio Vivácqua (R$ 2.653,70). O maior Índice Firjan de Emprego e Renda da microrregião é do município de Cachoeiro do Itapemirim, com 0,623, seguido pelos municípios de Castelo e Atílio Vivácqua, com 0,550 e 0,489, respectivamente. Mesmo sendo considerado um município de influência regional, Cachoeiro do Itapemirim apresenta a mais baixa receita líquida per capita da região: R$ 1.804,32.

Vale ressaltar que o município de Muqui apresenta o menor PIB per capita (R$ 10.783,05) e o menor Índice Firjan de Emprego e Renda (0,271) dentre os municípios da microrregião Central Sul. A maioria dos municípios da microrregião Central Sul apresenta Índice Firjan de Saúde na categoria alto desenvolvimento (de 0,8 a 1), sendo eles: Muqui (0,909), Castelo (0,902), Atílio Vivácqua (0,837), Mimoso do Sul (0,827) e Cachoeiro do Itapemirim (0,811). Os demais municípios, Apiacá (0,773) e Vargem Alta (0,773), apresentam índices moderados de desenvolvimento (de 0,6 a 0,8). O maior Índice Firjan de Educação é do município de Cachoeiro de Itapemirim, com 0,868, seguido pelos municípios de Castelo e Atílio Vivácqua, respectivamente com 0,860 e 0,845. Os demais municípios da Central Sul também apresentam alto índice de desenvolvimento (de 0,8 a 1,0), com exceção do município de Apiacá, com índice de 0,773, considerado moderado (de 0,6 a 0,8).

O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) mensura o desenvolvimento humano com base em três dimensões – longevidade, escolaridade e renda. O IDHM do Espírito Santo é de 0,740, considerado de alto desenvolvimento humano. A maior parte dos municípios que compõe a microrregião Central Sul apresenta índices próximos a 0,7, o que revela um IDHM de médio a alto desenvolvimento. O município de Cachoeiro do Itapemirim apresenta o maior IDHM da microrregião, com 0,746, seguido por Castelo e Atílio Vivácqua, com 0,726 e 0,708, respectivamente. Portanto, os três municípios são classificados como de alto desenvolvimento humano. O Índice de Vulnerabilidade Social (IVS) é mensurado com base em três dimensões: Infraestrutura Urbana, Capital Humano e Renda e Trabalho. O indicador auxilia no enfrentamento das desigualdades e oportunidades. O

Espírito Santo apresenta um IVS baixo, de 0,274, o que significa dizer que o estado apresenta baixa vulnerabilidade. Da mesma forma, todos os municípios que compõem a Central Sul apresentam IVS baixo (de 0,200 a 0,300), com índices que variam entre 0,199 a 0,283, o que indica baixa vulnerabilidade.

O IVS mais baixo é o do município de Castelo, com 0,199, e o mais alto é o do município de Mimoso do Sul, com 0,283. mesma forma, todos os municípios que compõem a Central Sul apresentam IVS baixo (de 0,200 a 0,300), com índices que variam entre 0,199 a 0,283, o que indica baixa vulnerabilidade. O IVS mais baixo é o do município de Castelo, com 0,199, e o mais alto é o do município de Mimoso do Sul, com 0,283.

Quanto ao atendimento dos serviços básicos na microrregião, foram considerados três serviços básicos: abastecimento de água por rede pública, coleta de lixo e coleta de esgoto. Os serviços básicos ainda não estão universalizados na microrregião Central Sul, sendo o abastecimento de água com percentual de 78% de cobertura, a coleta de lixo com 85%, e a coleta de esgoto com 72% da microrregião atendida. Em relação aos serviços de saneamento nos municípios, observa-se que o município de Cachoeiro de Itapemirim apresenta a maior cobertura da microrregião: abastecimento de água por rede pública, com 92,10%; coleta de lixo, com 95,07%; e coleta de esgoto, com 88,82%. Quanto aos menores percentuais de cobertura dos três serviços de saneamento, temos: Vargem Alta, com 37,07% no abastecimento de água por rede pública; Mimoso do Sul, com 44,67% na coleta de lixo; e Vargem Alta, com apenas 3,17% na coleta de esgoto.

[fontes: IJSN, com dados de população atualizados com dados do IBGE 2022].