Conheça Alegre, Bom Jesus do Norte, Guaçuí, Jerônimo Monteiro, Muniz Freire e São José do Calçado

Ouça a participação do comentarista Rafael Simões

Publicado em 23/06/2025 às 12h05
"Espírito Santo: Que História É Essa?" - Episódio 10. Crédito: Arte I A Gazeta
"Espírito Santo: Que História É Essa?" - Episódio 10. Crédito: Arte I A Gazeta

Nesta edição do "Espírito Santo: Que História É Essa?", o comentarista Rafael Simões traz como destaque as cidades da microrregião 6: Caparaó – Alegre, Bom Jesus do Norte, Guaçuí, Jerônimo Monteiro, Muniz Freire, São José do Calçado. Vamos às histórias:

Alegre:

Gentílico: Alegrense

Estimulados pela coroa portuguesa prometendo honrarias e prêmios aos descobridores de metais preciosos, audazes bandeirantes, desde os primórdios de nossa história colonial saíram em busca das lavras de ouro. Pela rota conhecida como Caminho Velho, Fernão Dias Paes Leme, entrando pela garganta do Embaú (provavelmente Taubaté hoje) após transpor a Mantiqueira chegou ao rio das Mortes, onde fundou um arraial, hoje cidade de São João D’el Rey.

As dificuldades de locomoção pelo caminho velho levaram a coroa portuguesa a autorizar a abertura de um caminho novo para as Minas. Coube ao desbravador Garcia Rodrigues Pais (filho de Fernão Dias) a incumbência de abri-lo. Iniciando-se pelo Rio de Janeiro a rota cruzava o rio Paraíba, demandando aos núcleos mineradores de Vila Rica (Ouro Preto) e Ribeirão do Carmo (Mariana) localizadas nas cabeceiras do Rio Doce.

Margeando o Caminho Novo situava-se o sertão para a parte do Leste, denominados Áreas Proibidas e, assim conhecidas, por servirem de barreira natural ao contrabando do ouro.

Senhores absolutos da região que se estendia do alto Rio Doce até os vales do Rio Pomba, hordas de Botocudos atacando de emboscada à noite, com suas flechas farpadas, apavoravam o invasor.

Até a década de 1730, o ouro foi abundante nos núcleos mineradores do alto Rio Doce; conheceram ligeiro declínio na década dos 40, decaindo francamente a partir de 1763. No início do séc. XVIII, afrouxando – se a política protetora sobre as Áreas Proibidas, iniciou-se a catequese.

Em 1808 o Príncipe Regente D. João criou a Junta Militar de Civilização dos Índios, tendo por escopo o devassamento dos rios Caratinga e Manhuaçu – bacia do Rio Doce – e rios Carangola e Muriaé na bacia do Pomba.

Por carta régia de 29 de maio de 1809 foram nomeados os primeiros comandantes, em número de seis, com o posto de Alferes, agregados ao regimento de Cavalaria de Minas Gerais, para atuarem nas divisões militares que obstassem os ataques dos indígenas no Rio Doce. Um desses militares foi o Alferes da Segunda divisão de Caçadores João do Monte da Fonseca.

Do vale do Pomba, uma tira de selva muito estreita nas imediações de Mar de Espanha, se alargando para o Norte juntava-se à imensa floresta capixaba. E a mata impenetrável, a estender-se por vales e montanhas cobrindo os flancos e os cumes das serras do Caparaó, Pilões, Pombal e Castelo, formando uma barreira natural ao povoamento do sul da capitania do Espírito Santo.

Em 1811, após a liberação das áreas proibidas ao comércio e ao tráfego, João do Monte da Fonseca iniciou a abertura de um picadão ligando Mariana – MG à confluência do Rio Castelo com o Itapemirim. Partindo do descoberto do Furquim (Mariana) João do Monte da Fonseca e sua gente chegou ao Rio Carangola. Pela margem direita, na distância de duas léguas, atravessaram o dito Rio independente de ponte, por ser vadiável. Media o caminho de Furquim ao Carangola a distância de 11 léguas e 15 cordas.

Seguindo o mesmo rumo os desbravadores, chegaram ao Rio São João (hoje Espera Feliz) e continuando na mesma direção atravessaram o Rio Preto (Dores do Rio Preto). Tinha a passagem do Carangola ao Rio Preto a distância de 6 léguas, 1 quarto e 30 cordas. Continuando no mesmo rumo do nascente, na distância de 3 léguas e meia e 46 cordas, atravessaram o rio São Lourenço (rio Veado) que segundo a tradição que corre, se une ao Preto e forma o rio Cabapuana (Itabapoana).

Continuando na mesma direção atravessaram um monte (serra dos Pilões) e encontraram as cabeceiras do ribeirão que foi denominado Alegre, e que faz barra com o Itapemirim, e vem do Norte. Ali foi fincado um quartel de caçadores (antigo Leite Glória). E tem a distância do rio Veado à barra do Rio Norte, (quartel dos caçadores) a medida de 5 léguas.

Continuando o caminho pela direita do rio Itapemirim, passam pela barra do rio Castelo (Duas Barras) que vem do Norte, até encontrarem o caminho aberto para a Vila do Itapemirim. Em 14 de abril de 1815, o Capitão do Corpo de Pedestre da Província do Espírito Santo, Ignácio Duarte Carneiro, informou ao Governador Francisco Alberto Rubim que, no dia 1º do corrente, chegou ao Itapemirim (Vila) vindo da cidade de Mariana pela trilha feita por João do Monte da Fonseca, uma tropa com doze bestas carregada com 45 arrobas de toucinho, 40 ditas de carne seca de 18 de tabaco e fumo.

Por volta de 1820, tomado pelas possibilidades de exploração das margens da estrada e utilizando o picadão aberto por João do Monte da Fonseca, chegou à região onde se encontra a cidade de Alegre uma expedição chefiada pelo capitão-mor Manoel Esteves de Lima, português, vindo de Minas Gerais à procura de terras férteis para exploração agrícola. Compunha-se de cerca de 72 pessoas, a maioria negros escravos e índios.

Em sua viagem de volta, Manuel Esteves, a partir das duas barras (Itapemirim/Castelo), foi destinando aos homens de sua bandeira as terras nas quais deveriam formar fazendas, construir e manter ranchos de apoio às tropas:

João Teixeira da Conceição construiu na margem do ribeirão, que hoje tem seu nome, um rancho para receber tropeiros que demandavam estas plagas. Derrubou matas, plantou cana, algodão, tabaco, milho, mandioca; construiu ranchos de apoio às tropas, formou o povoado. Com o falecimento de João Teixeira da Conceição, em 13 de junho de 1849, seu filho Pedro Teixeira da Conceição, herdeiro das terras circundadas pelos Rios Conceição e Alegre, vendeu-as à Misael Ferreira de Paiva e Jerônimo Rodrigues Cardoso. O Quartel dos Caçadores deu origem ao Município e a fazenda do Conceição deu origem à Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Alegre (depois, Nossa Senhora da Penha) e à vila, que deu origem à cidade.

Diz a lenda que o rancho construído por Conceição se tornou conhecido pela presença ali da cachorrinha Alegre, nome este que se estendeu ao povoado que se formava e, ao Município do qual é sede. O período da história de Alegre entre a chegada de João do Monte da Fonseca (1811) e o ano de 1850, quando chegou o primeiro padre, Francisco Alves de Carvalho, permanece obscuro, apenas iluminado por algumas lendas que ilustram fatos vividos pelos primitivos habitantes e aventureiros.

Somente na segunda metade do século XIX, a partir de 1857, quando foi criada a primeira subdelegacia policial, é que se tem notícia da fixação de famílias que se tornaram tradicionais na vida econômica e política local. Entre elas podemos citar: os Ferreiras de Paiva, Gonçalves Monteiro, Azeredo Coutinho, Monteiro da Gama, Soares da Silveira, Paula Campos, Martins de Carvalho, Teixeira Alves, Quintino Leão, e, já no começo deste século, os Wanderley, Tannure, Simão, Nasser, Macedo, Sobreira, Vargas, Pinheiro, etc., muitas já desaparecidas do cenário alegrense, algumas com descendentes que aqui ainda residem, aos quais vieram juntar-se outros povoadores que trabalham juntos pelo progresso do Município.

Linha do Tempo – a partir de 1858

• 23 de julho de 1858 – é criada a freguesia, pela Lei nº 22, sob a denominação de Nossa Senhora da Conceição do Alegre.

• 04 de novembro de 1869 – pela Lei nº 7, o povoado recebe nova denominação — “Freguesia de Nossa Senhora da Penha do Alegre”.

• 03 de abril de 1884 – é criado o município, pela Lei nº 18.

• 11 de novembro de 1890 – Citado pelo decreto nº 53, desta data, é ratificado pela Lei nº 18, que o desmembra do município de Cachoeiro de Itapemirim; a mesma lei eleva o povoado à categoria de vila.

• 06 de janeiro de 1891 – são oficialmente instalados a vila e o município.

• 22 de dezembro de 1919 – pela Lei nº 1.208, a vila é elevada à categoria de cidade.

Fontes: Instituto Histórico e Geográfico de Alegre / Zélia Cassa de Oliveira / Instituto Jones dos Santos Neves / IPES – Diagnóstico Socioeconômico do Território do Caparaó.

Bom Jesus do Norte:

Gentílico: Norte-bonjesuense

A região que hoje é Bom Jesus do Norte, até 1964, data de sua emancipação, pertencia ao município de São José do Calçado.

No século XIX, os colonizadores Coronel José Dutra Nicácio, José Francisco de Melo, José Lima da Silveira, Marciano Lúcio e Caboclo Valério, em busca de terras para trabalhos agrícolas chegaram à região, situada às margens do Rio Itabapoana, fundando então um pequeno povoado, que veio a formar a cidade de Bom Jesus do Norte.

No ano de 1911 o povoado foi considerado distrito sobre a denominação de Bom Jesus do Jardim. Em 1914 ocorreram mudanças na região com a criação do Ordem e Progresso Futebol Clube e a Inauguração da Estação da Estrada de Ferro do Itabapoana. O primeiro terminal de uma estrada de ferro chegou à região em 1879, com a Rede Ferroviária Carangola-Santo Eduardo. O outro foi em 1883, a Estação Porto Alegre que deu origem ao povoado de Itaperuna, contando com a presença de D. Pedro II em sua inauguração. Em 1892 foi construída a ponte sobre o rio, ligando Santo Eduardo à Ponte do Itabapoana, o que fez com que os trilhos fossem ligados a Cachoeiro do Itapemirim. Da estação de Ponte do Itabapoana os trilhos seguiram para o povoado de Boa Vista, em 1896. A Estrada de Ferro do Itabapoana funcionou até o final dos anos 1940 e início da década de 1950, quando foi desativada e posteriormente extinta.

Em novembro de 1938 pela Lei nº 9.941 passou a denominar-se Bom Jesus do Norte, por estar ao norte do Rio Itabapoana. Em dezembro de 1963 a Lei nº 1911 tornou o território, agora desmembrado de São José do Calçado, município. Sua instalação se deu no dia 9 de abril de 1964.

Guaçuí:

Gentílico: Guaçuiense

Até poucos anos atrás, pensava-se que a história de Guaçuí e de seus municípios vizinhos teve início com a expedição do então sargento-mor Manoel José Esteves de Lima. Um explorador português, que saiu da aldeia de Cordeiros, em Riba de Mouros, província do Minho, em Portugal, no ano de 1801 para receber uma herança que lhe foi deixado por parentes que moravam em Minas Gerais. Sua expedição passou pelo território do atual município de Guaçuí em 1820. Por todo o caminho – que ia até o atual município de Jerônimo Monteiro, Esteves de Lima foi deixando seus companheiros, com ordens para construir fazendas e prepararem locais para apoio dos viajantes que passassem pela recém redescoberta Estrada do Itapemirim, que ligava as cidades mineiras ao litoral da vila de Itapemirim, no sul da Capitania do Espírito Santo.

Mas, Esteves de Lima, não foi o bravo desbravador que colonizou essas terras. Cinco anos antes, esteve por aqui o Alferes João do Monte da Fonseca. Em 1808, D. João, o príncipe regente em nome de sua mãe, a rainha Maria I, preocupado com os ataques dos índios botocudos às fazendas e colonos que se instalavam na fronteira das Capitanias de Minas Gerais e Espírito Santo, criou a Companhia de Civilização e Conquista dos Índios e Navegação do Rio Doce, dividida em 6 áreas, tendo cada uma como comandante, um alferes. Esses tinham como objetivo executar qualquer índio que não aceitasse abandonar suas tradições e “ferocidade” (Segundo a Carta Régia de 13/05/1808) e também a se submeter a um período mínimo de 10 anos de serviço aos alferes e à coroa, o que não seria algo difícil, uma vez que entre os indígenas espírito-santenses, esses eram os mais resistentes. Porém eles habitavam uma faixa de terra que ia do Rio Pardo (BA) ao Rio Doce (MG e ES), com pouquíssimos indivíduos na região sul dessas duas capitanias. Além do soldo de alferes, os comandantes, recebiam uma recompensa por cada botocudo morto e aquele entre os seis que fizesse o melhor trabalho, ainda ganharia como prêmio, mais meio soldo.

É fato que, os indígenas botocudos foram por muito tempo, uma barreira para o crescimento de Minas e do Espírito Santo, mas por outro lado, os puris– tupis, que habitavam as terras ao sul do Rio Doce, não eram tão resistentes. A primeira expedição de João do Montefoi realizada em 1810, quando esse abriu uma estrada que ia desde o Descoberto de Arripiados – área aurífera, através dos atuais municípios de Iúna, Irupi, Ibatiba e Muniz Freire até Castelo. Os objetivos eram alcançar as minas de Castelo e possibilitar o acesso à Vila de Vitória (ES). Este caminho ficou conhecido como Estrada do Rubim, mais tarde, Estrada Pedro de Alcântara (Parte da atual BR-262), o qual influenciou antigo nome do município de Iúna, São Pedro de Alcântara do Rio Pardo. Esta gigante obra foi justificada pela necessidade de novas fontes de riquezas, uma vez que o ouro das Minas Gerais, já não era tão abundante como outrora. E também a procura de áreas potencialmente agrícolas.

Cinco anos mais tarde, em 1815, o alferes João do Monte recebeu mais uma tarefa: abrir uma nova estrada, esta pelo extremo sul das capitanias, na divisa com o Rio de Janeiro. Sua missão era simples, ele deveria fazer as reparações em uma picada que já existia, porém há muito não era usada (embora não se saiba quem a abriu, estudos afirmam que tenham sido usadas por contrabandistas, para desvio de riquezas minerais).

Em seu diário, o qual foi recopilado mais tarde por Manoel José Pires da Silva Pontes (nono presidente da província do Espírito Santo e também membro do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil), João do Monte narra sua saída das proximidades de Ponte Nova, na época, parte de Mariana, descendo até São Miguel das Almas dos Arripiados, e depois para o Quartel do Glória, que seria a base de entrada na “Zona Proibida”. Há três dias de distância do Glória, encontraram os rios Carangola e Preto, próximo a então Serra dos Arripiados, também conhecida como Serra Negra (atual serra do Caparaó), na qual se fundou o Quartel do Rio Preto em 6 de julho de 1815. Ali João do Monte deixou um soldado ferido com alguns índios sobre o comando de Manoel Jorge.

Próximo ao Quartel do Rio Preto havia um povoado, o qual seria o Aldeamento Imperial de São Pedro de Rates – uma espécie de prisão semiaberta de puris. Seguindo sempre as margens do rio Camapuam (atual Itabapoana) até perto da desembocadura do rio que João do Monte batizou de Rio do Veado em 16 de julho de 1815, apesar de não ter registrado o encontro com nenhum desses animais na região. A tropa desviou o caminho, subindo pelo Rio Veado, até certo ponto que caminharam para leste, onde encontraram um afluente do Itapemirim, o Rio Norte, pelo qual passaram pelo futuro município de Alegre, onde encontraram uma tropa espírito-santense que veio recebê-los.

Essa região, apesar de ser de jure do Espírito Santo, não era e nem seria colonizada por essa capitania. A presença de soldados mineiros abrindo uma estrada que ligasse ambas as divisões administrativas (ES/MG) representava o início de um desenvolvimento, o qual a pequena e pobre capitania espírito-santense não poderia dar seguimento. As tropas mineiras instalariam quartéis militares, os quais eliminariam os indígenas resistentes. Assim aconteceu. Fundaram próximo a Rive, o Quartel do Pombal e um pouco à frente da desembocadura do Rio Castelo com o Itapemirim, na última cachoeira desse, o Quartel do Castro, o último forte mineiro, a divisa de fato e, posteriormente, de jure, entre as capitanias.

Essa região entre a Serra de Arripiados e o Quartel do Castro ficou sobre poder militar mineiro, mas, por pouco tempo sobre o comando de João do Monte da Fonseca, após “limpar” a área de indígenas – os quais foram registrados em seu diário como botocudos, esse foi até a Vila de Vitória, onde se encontrou com o Governador da Capitania e narrou a esse os pormenores de sua expedição, em um ato que prova o contentamento ou pelo menos a despreocupação do Espírito Santo com os militares mineiros.

Silva Pontes além de defender a colonização da região entre os rios Preto e Norte (afluente do Itapemirim) pelos mineiros, ainda reconhecia o direito de Minas, sobre essas terras a qual se referia como Extrema Oriental, onde logo nasceria a vila de São Bom Jesus do Livramento que viria a ser Guaçuí.

Em 1820 o governo de Minas Gerais dá ao Sargento-Mor Manoel José Esteves de Lima, o direito de explorar a nova estrada do Itapemirim, dessa forma o português vem para a Extrema Oriental com uma tropa composta de 72 homens, com poucos brancos, a maioria escravos e índios. Após fazer o reconhecimento até a confluência dos Rios Castelo e Itapemirim (Duas Barras), o Sargento-mor volta distribuindo terras a seus subordinados, dando ordens para que esses fundassem fazendas e ranchos de apoio às tropas de viajantes que cruzassem a região, entre os beneficiários podemos destacar José Luiz da Silva Viana, cujas terras compreendiam a atual sede de Guaçuí. Esteves de Lima fundou uma fazenda a oeste do atual município em questão, a qual chamou de Fazenda Santa Marta.

Sete anos após se estabelecer na Extrema Oriental, o Sargento-mor vai até a recém criada freguesia de São Miguel das Almas dos Arripiados (pertencente ao município de Viçosa), onde se encontra com o Alferes João do Monte, para juntos determinarem os limites dessa nova freguesia com a província do Espírito Santo. Após uma breve análise, foi registrada na Paróquia dessa freguesia no dia 12 de outubro de 1827, que as terras de São Miguel iriam a leste, até o Rio Norte (Muniz Freire - ES), São Miguel das Almas dos Arripiados. Hoje, cobriria os municípios de Iúna, Irupi, Ibatiba, Muniz Freire, Ibitirama, Divino de São Lourenço, Dores do Rio Preto, Guaçuí, Alegre, São José do Calçado, Bom Jesus, Apiacá e uma parte de Mimoso do Sul, possivelmente partes de Muqui e Jerônimo Monteiro.

De acordo com as pesquisas do IHGGES, existem documentos de 1838 onde já se mencionava a existência de um povoado chamado de São Bom Jesus do Livramento, onde hoje é a cidade de Guaçuí, fundado por Justino José Maria das Dores, que aqui chegou em 29 de setembro do ano mencionado, dia de São Miguel Arcanjo, santo adotado como padroeiro, ganhou na década de 1860 de Luis Francisco de Carvalho e do Comendador José de Aguiar Valim, uma capela em sua homenagem.

A primeira formação administrativa, foi a Subdelegacia de Polícia de Veado, criada 1861, cobria desde o ribeirão do Castelo até o rio Preto, compreendendo as povoações de São Bom Jesus e São Pedro de Rates, só foi elevado a condição de freguesia (distrito) em 1866, quando seu território já pertencia ao município espírito-santense de Cachoeiro do Itapemirim. Em 1884 Alegre se emancipa de Cachoeiro, e o distrito de São Miguel do Veado (ex-São Bom Jesus do Livramento), passou para o mandato alegrense.

Foi nesse período que São Miguel do Veado começou a emergir no cenário cultural, econômico e social da região e do estado. O primeiro trem de passageiros da companhia britânica The Leopoldina Railway passou pela localidade em 1913, quatro anos depois assumiu a paróquia o lendário Padre italiano Miguel de Sanctís. Junto da ilustre Comendadora Jurema Moretzsohn, fundou em 1924 o Colégio São Geraldo, o maior e um dos primeiros do distrito.

A independência política, veio em 25 de dezembro de 1928, com o nome de Município de Veado, sendo nomeado o primeiro 1º prefeito interventor, Suetónio Resende, que foi sucedido pelo prefeito eleito Dr. Manoel Monteiro Torres, no mesmo ano foi inaugurada a Matriz de São Miguel Arcanjo, devoção herdada do período da colonização e mandato de São Miguel dos Arripiados sobre essas terras. Desde o século XIX, no dia de São Miguel (29 de setembro) se fazem festejos e solenes honras ao santo. Como o aniversário do município é exatamente o dia de Natal, onde se comemora o nascimento de Jesus de Nazaré, tornou-se impossível mobilizar esse povo de berço católico para comemorar uma festa política, portanto, passou-se a se comemorar a festa da cidade junto a do santo, tradição que permanece até os dias de hoje.

No ano seguinte, o município é instalado, recebe foros de cidade e é nomeado o 1º delegado de polícia, o Sr. Wlademiro Azevedo de Carvalho. Quando se deu a separação de Guaçuí do município de Alegre, e esse era formado por três distritos: a SEDE, São Tiago (Divino de São Lourenço) e Rio Preto.

[fontes:

Acervo do Instituto Histórico e Geográfico de Guaçuí: Diário de João do Monte da Fonseca 1815.

Acervo Público Mineiro: Limites da Freguezia de Arripiados com a Provincia do Espirito Santo 1827]

Jerônimo Monteiro:

Gentílico: Monteirense ou jeronense

A origem de Jerônimo Monteiro está ligada a de outras cidades do sul do Espírito Santo, desbravadas pelo português-mineiro Manoel José Esteves de Lima. Foi ele quem partiu de Mariana em 1820 com uma expedição para a foz do rio Itapemirim. Há informes dando conta de que ele veio pela região montanhosa, seguindo o curso principal dos rios e tendo como guia o caboclo Calixto Antônio dos Santos, que fez o mesmo trajeto que mais tarde seria o da estrada de ferro Leopoldina, no trecho entre Cachoeiro e Guaçuí.

Somente em 1823 a expedição chegou à região onde hoje está localizada Jerônimo Monteiro e chamaram aquela gleba de Cachoeira das Flores. Depois da expedição à foz do rio Itapemirim, um grupo retornou para os locais por onde haviam passado e em Jerônimo Monteiro ficaram seis pessoas. Enfrentando as matas, o grupo subiu o rio até o atual bairro Parada Cristal. Uma dessas pessoas se chamava Souza, sobrenome que se tornou comum na região. Daí a razão de o vilarejo de Cachoeira das Flores passar a ser conhecida por Vala do Souza, nome reconhecido mais tarde pela Estrada de Ferro Caravelas, construída em 1887. No trajeto entre Cachoeiro de Itapemirim e Pombal (Rive), a estação de Vala de Souza era a única parada.

Por volta de 1840, chega à região de Alegre, o cidadão francês Cândido José Bossois, casado com D. Joaquina Medeiros Bossois, provenientes de São João Nepomuceno, em Minas Gerais. Torna-se grande proprietário de terras, possuindo as fazendas: Santa Cruz, Jacutinga, Velha, Cristal, Sobradinho, Soledade, Santa Joana e do Norte.

Em suas terras, na fazenda Cristal, construiu o edifício da estação de trem, doando-o, assim como as terras necessárias, à Companhia de Ferro Caravelas. Em 16 de setembro de 1887 passou por Vala do Souza o primeiro trem com destino a Pombal. Estava sendo inaugurada a primeira ferrovia do estado, Estrada de Ferro Caravelas, construída pela Companhia de Navegação Espírito Santo e Caravelas.

Sem levar em consideração a doação de Cândido José Bossois, a Estrada de Ferro Caravelas foi inaugurada a dois quilômetros abaixo da estação de Vala do Souza (onde é hoje o centro da cidade). O povoado passou a ser identificado por dois nomes: Vala do Souza e Sabino Pessoa. Isto aconteceu até 1943, quando a sede do distrito foi elevada à categoria de Vila e passou a se chamar Vila Vala do Souza.

Inconformado pelo fato do trem não parar na estação que construíra, Cândido José Bossois, juntamente com Antônio Egídio de Souza Lima e Francisco Martins, passaram a arrastar grandes toras de madeira, com juntas de boi, para cima do leito da estrada de ferro, obrigando o trem a parar também na Estação Sabino Pessoa, nome dado em homenagem ao engenheiro que construiu aquele trecho. Como a insistência dos fazendeiros era muito grande, a diretoria da empresa resolveu reconhecer a parada e a inaugurar oficialmente a estação, onde é hoje a agência do Banestes de Jerônimo Monteiro.

A nova estação tornou-se a sede do distrito judiciário de Vala do Souza do município de Alegre, criado após a proclamação da República. Ali se instalaram as repartições estaduais e municipais, cartório, tabelionato e fiscalização municipal. Mais tarde foi construída uma escola e o prédio da coletoria de rendas estaduais, ambas com o nome de Sabino Pessoa. Em 20 de janeiro de 1928 o vilarejo passou a receber iluminação elétrica.

O município foi criado em 15 de dezembro de 1958 e a instalação ocorreu em 29 de janeiro de 1959.

Distrito criado com a denominação de Vala de Souza, pela lei municipal nº 11, de 11-01-1895 e por lei estadual nº 715, de 05-12-1910. Elevado à categoria de município com a denominação de Vala de Souza, pela lei estadual nº 777, de 29-12-1953, desmembrado de Alegre. Constituído do distrito sede.

Por decisão do Supremo Tribunal Federal, Acórdão de 04-10-1955 (representação nº 244), foi anulado o ato de criação do município, voltando a categoria de distrito de município de Alegre. Com a denominação de Jerônimo Monteiro. Elevado novamente à categoria de município com a denominação de Jerônimo Monteiro, pela lei estadual nº 1416, de 28-11-1958, desmembrado de Alegre. Sede no distrito de Vala de Souza atual Jerônimo Monteiro. Constituído de distrito sede. Instalado em 15-12-1958.

Muniz Freire:

Gentílico: Muniz-freirense

O início da colonização de Muniz Freire data de 1846 e teve como primeiros desbravadores o Capitão Machado Santiago Louzada, um veterano da Guerra dos Farrapos, e Domingos Apolinário, um aventureiro que " gostava e lutar com feras" e que possuía terras nas áreas vizinhas, a atual Serra do Apolinário.

A fertilidade do solo para o cultivo de café e cereais, além das condições climáticas, foram as causas do movimento migratório que anos mais tarde, propiciou à região um desenvolvimento de vulto. O município foi criado em 11 de novembro de 1890, pelo Decreto nº 53, desmembrado de Cachoeiro de Itapemirim, sob a denominação de Espírito Santo do Rio Pardo, ocorrendo a sua instalação em 01 de marçode 1891.

A Lei nº 213 de 30 de novembro de 1896 eleva sua sede à categoria de cidade e altera-lhe o topônimo para Muniz Freire, uma homenagem prestada ao republicano Moniz Freire, várias vezes Presidente da Assembleia Legislativa, Senador e Governador do Estado do Espírito Santo.

Através da divisão territorial-administrativa de 1933, o município ficou composto de quatro distritos: Muniz Freire, Itaipava, Conceição do Norte e Vieira Machado. No ano de 1948, ficaram estabelecidos em Decreto-Lei como distritos de Muniz Freire: Itaici (ex-Itaipava), Vieira Machado e Piaçu (ex-Conceição do Norte). Atualmente, existem além desses, o distrito de Menino Jesus e o Distrito de São Pedro, este último criado apenas pela Lei Municipal nº 1.077/89 de 25.05.1989.

A Sede do município foi área doada por Domingos Apolinário para o primeiro povoado da região, que surgiu por estar no centro das rotas das tropas que transportavam a produção local.

Muniz Freire foi colonizada por imigrantes italianos, vindos para substituir o trabalho escravo nas lavouras de café. O maior impulso econômico experimentado no município deveu-se à inauguração da BR-262, ligando Vitória a Belo Horizonte. A Sede do Município teve os seguintes nomes: arraial ou patrimônio do Divino Espírito Santo, depois chamou-se Vila do Espírito Santo do Rio Pardo, e finalmente Muniz Freire a partir de 26/11/96, quando foi elevada a cidade.

Enquanto nossa cidade passou a chamar-se Muniz Freire na data acima referida, o Município continuou com o nome de Espírito Santo do Rio Pardo até 23/05/21, quando passou também a chamar-se Muniz Freire. Moniz Freire ou Muniz Freire? Foi encontrado documentos da época da criação do Município com as duas grafias. Predominou posteriormente a última - Muniz Freire.

[fonte: "A História de Muniz Freire" - Dr. Carlos Brahim Bazzarella]

São José do Calçado:

Gentílico: Calçadense

Graças à coragem de dois sertanejos - Marciano Lúcio e o caboclo Valério - e a liberalidade do coronel José Dutra Nicácio de Minas Gerais, senhor de grandes extensões de terras, formou-se, nos limites com o Rio de Janeiro, o arruado que mais tarde se transformaria no município de São José do Calçado. O topônimo, reza a tradição, resultou de a população local ter adquirido na Corte pequena imagem de São José, na qual vieram, justaposta, duas sandálias. Na área doada pelo coronel José Dutra foi lançado, a 07-11-1855, o marco da povoação. Nos primórdios de sua formação e depois, no curso de sua evolução política como povoado, distrito de paz, vila, município, cidade e comarca, São José do Calçado pertenceu a vários municípios, até firmar independência.

Sua elevação a sede de distrito data de 16-11-1871 (Lei número 11) e à categoria de vila, de 11-11-1890 quando foi desligado o território do de Cachoeiro de Itapemirim e, pelo decreto nº criado o município, instalado a 15-03-1891. Distrito com a denominação de São José do Calçado, por lei provincial nº 11, de 16-11-1871, subordinado ao município de São Pedro de Itabapoana.

Elevado à categoria de vila com a denominação de São José do Calçado, por decreto nº 53, de 11-11-1890, desmembrado de São Pedro de Itabapoana. Sede na antiga vila de São José do Calçado. Constituído de 2 distritos: São José do Calçado e Palmital. Instalado em 15-03-1891.

Pela lei municipal de 05-04-1895, são criados os distritos de Alto Calçado, Barra do Calçado e Jardim e anexados ao município de São José do Calçado.

Em divisão administrativa referente ao ano de 1911, a vila é constituída de 5 distritos: São José do Calçado, Alto Calçado, Barra do Calçado, Jardim e Palmital. Pela lei estadual nº 1384, de 05-07-1923, a vila de São José do Calçado passou à condição de cidade. Elevado à categoria de município. Em divisão territorial datada de 01-01-1979, o município é constituído de 3 distritos: São José do Calçado, Airituba e Alto Calçado.

O nome da cidade, reza a tradição, vem do fato de a população do antigo vilarejo, ainda no século XIX, ter adquirido da corte uma imagem de São José, a qual veio com sandálias, coisa incomum na época. Essa versão foi escrita em livros sobre o município, porém, reflete a opinião da tradicional Igreja Católica, a qual patrocinou o livro. Contudo, a versão mais aceita reflete o fato de toda região, lugarejo, vilas, municípios terem seus nomes de origem de acordo com a geografia da região. Por exemplo, os municípios de Cachoeiro do Itapemirim, Bom Jesus do Itabapoana, têm seus nomes originados de seus rios, o mesmo fato ocorre com o município de São José do Calçado. O rio que passa pela cidade tinha há muitos anos as suas margens calçadas de pedras. Daí a explicação mais razoável para o nome de São José do "rio" calçado. Assim como alguns lugares vizinhos e no restante do país, essa cidade recebeu tal nome por ter essa característica geográfica peculiar.

Numa área doada pelo coronel José Dutra Nicácio foi implantado, em 7 de novembro de 1855, o marco que deu início à povoação. Antes de se tornar independente e constituir-se em município, em 15 de março de 1891, o povoado tornou-se distrito (16 de novembro de 1871), vila 11 de novembro de 1890, desligando-se de Cachoeiro de Itapemirim), cidade e comarca, pertencendo a vários municípios.

[fontes: sites das prefeituras, Câmaras Municipais e Wikipédia]

População dos municípios da Microrregião 6 (Censo, 2022 – IBGE)

Alegre 29.177

Bom Jesus do Norte 10.254

Guaçuí 29.358

Jerônimo Monteiro 11.575

Muniz Freire 18.153

São José do Calçado 10.878

Divino de São Lourenço 5.083

Dores do Rio Preto 6.596

Ibatiba 25.380

Ibitirama 9.520

Irupi 13.710

Iúna 28.590