Povos que formaram o ES: conheça a história dos poloneses

Ouça a participação do comentarista Rafael Simões

Publicado em 10/06/2024 às 12h12
Primeiros poloneses a chegarem na Colônia de Águia Branca, em 1928
Primeiros poloneses a chegarem na Colônia de Águia Branca, em 1928. Crédito: APES

Nesta edição do “Espírito Santo: Que História é Essa?”, o comentarista Rafael Simões inicia uma série sobre os povos que marcaram e influenciaram a história do Estado. Nesse primeiro episódio, o destaque são os poloneses. O comentarista recorda.

São dois os grupos de poloneses que veem para o Espírito Santo. Os primeiros chegam no início dos anos de 1870 e serão assentados na Colônia de Santa Leopoldina, indo, na sequência, para o Núcleo Timbuhy. Já o segundo grupo chega, principalmente, nos anos de 1929 a 1931 por meio de uma ação organizada pelo Governo Estadual e a Sociedade de Colonização da Polônia, com a criação do núcleo colonial de Águia Branca, no Norte do estado. Os poloneses pioneiros têm, em comparação com o segundo fluxo, sua história pouco disseminada e conhecida entre a população regional não somente pelas condições difíceis da sua fixação no estado (chegados da pátria inexistente, ocupada pelas potências vizinhas, sem apoio institucional, com fatores adversos para sua plena integração: psicológicos – complexo de inferioridade e animosidades frente aos grupos imigrantes provenientes dos países ocupantes na Europa; culturais – falta de educação, desentendimentos com grupos protestantes, especialmente luteranos; econômicos – pobreza extrema; sociais – construção de ambientes fechados para reconstruir a pátria perdida), mas, antes de tudo, por falta de estímulo e ajuda no lugar de assentamento por parte da sociedade local e do governo brasileiro.

Já os imigrantes poloneses que vieram por meio da ação governamental nos anos de 1929/31 conseguiram se posicionar melhor no que diz respeito aos aspectos socioeconômicos. O processo imigratório e o seu reconhecimento identitário, foi facilitado por melhores circunstâncias políticas da sua saída da Europa (a Polônia reconquistou a sua independência em 1918 e em seguida estabeleceu relações diplomáticas com o Brasil) e pela diferença na recepção deles no lugar de assentamento, notável nas atitudes e empenho político e administrativo do governo estadual.

De acordo com o levantamento realizado por Franceschetto (2014), no APEES, chegaram no Espírito Santo 698 imigrantes poloneses no século XIX, a maioria vindos da região da Prússia Oriental. Desse quantitativo, 658 poloneses foram fixados na Colônia de Santa Leopoldina; 23 em Porto Benevente e 10 em Piúma. O total de imigrantes que entraram no século XIX, vieram em duas levas: nos anos de 1870, com a chegada de 575 pessoas; e em 1880, com a entrada de 123. Mas, parte daqueles que chegaram entre os anos de 1872-1873 se retiraram para o Sul do país.

Os imigrantes poloneses eram predominantemente agricultores pobres e católicos. A primeira leva aportou nos navios Zorida e Hertig Oscar Friederick, no porto de Vitória em dezembro de 1872, vindos de Hamburgo, Alemanha. Posteriormente, entre os meses de maio e julho de 1873, atracaram mais 118 poloneses conduzidos pelos navios Adolph e Gutenberg, desta vez procedentes da Prússia Ocidental.

Ao desembarcar no porto de Vitória, capital da Província do Espírito Santo, os imigrantes foram conduzidos à Colônia de Santa Leopoldina que efetivamente não se encontrava preparada para recebê-los. Já com muitos problemas com os colonos alemães, suíços, e outros que habitavam o lugar, os poloneses se depararam com acomodações precárias e insuficientes para a quantidade de colonos deslocados para o local. Além disso, era verão, período de forte calor nos trópicos, sem assistência médica, e tendo de aguardar para que se fizesse a demarcação dos lotes, e sem informações sobre os itens de sobrevivência numa terra absolutamente estranha à sua cultura, história e territorialidade.

Todos esses problemas e a omissão dos governantes com relação aos poloneses suscitou junto à parte do grupo uma grande revolta, provocando inclusive um movimento com armas contra autoridades da colônia. Como resultado, em julho de 1873, muitos imigrantes haviam se movido de Santa Leopoldina em direção às colônias do Sul do país. Algumas das famílias polonesas remanescentes foram as primeiras a ocupar o núcleo Timbuhy, situado nas cercanias do município de Santa Teresa. Em 1874 o Governo criou dois estabelecimentos ligados à Colônia de Santa Leopoldina: o núcleo Santa Cruz e o núcleo Timbuhy. Esse último diretamente relacionado ao destino da trajetória dos poloneses que partem da Colônia e se instalam fundando o que se tornaria conhecido atualmente como Patrimônio dos Polacos.

[fontes: Franceschetto, 2014; Arquivo Público do ES; governo do ES]