Por que ataques a escolas têm se repetido no Brasil e que lições podem ser tomadas?

Conselho Regional de Psicologia do Espírito Santo (CRP-ES) alerta sobre fenômeno de violência que pode gerar outros ataques

Vitória / Rede Gazeta
Publicado em 20/12/2022 às 10h49
Atirador tinha suástica nazista e usou arma do pai policial militar em ataques em Aracruz
Atirador tinha suástica nazista e usou arma do pai policial militar em ataques em Aracruz. Crédito: Reprodução

O crescimento de ocorrências de ataques a tiros em escolas brasileiras tem levantado o debate sobre o país estar reproduzindo um cenário já visto em países como os Estados Unidos, de massacres em colégios. Um levantamento realizado pelo "Instituto Sou da Paz" apontou que o Brasil registrou 12 ataques em escolas nos últimos 20 anos. Em todos os casos, os assassinos eram alunos ou ex-alunos da instituição de ensino invadida. O episódio com o maior número de vítimas ocorreu em 2011 e ficou conhecido como o Massacre de Realengo. Na ocasião, 12 pessoas morreram após um ex-aluno atirar em jovens na Escola Municipal Tasso da Silveira, na Zona Oeste do Rio. Mais recentemente, em novembro, um atirador de 16 anos invadiu duas escolas e quatro mortos, além de feridos, em Aracruz, no Norte do Estado. Diante desse cenário, o Conselho Regional de Psicologia do Espírito Santo (CRP-ES) alerta sobre fenômeno de violência que pode gerar outros ataques como os de Aracruz e defende ações permanentes de combate a discursos de ódio e fascistas.

Em entrevista à CBN Vitória, o presidente do CRP-ES, o psicólogo Thiago Machado, fala sobre o assunto. "O que nós temos trabalhado, primeiro, é trazer a noção de que esses casos de violência não são isolados e têm sido, cada vez mais comuns, dentro dessa lógica do discurso de ódio. A gente tem o entendimento, enquanto sociedade, que palavras proferidas são menos prejudiciais do que alguém que propriamente comete um crime que a gente já conheça, quando alguém assassina outra pessoa, dando uma facada, por exemplo. Os discursos de ódio também são violentos e podem impactar na ocorrência de um ato extremo. E as redes sociais têm colaborado muito com isso. As pessoas sem sentem protegidas no 'anonimato' de uma rede e começam a ter ressonância em outras pessoas, grupos, e cometem atos como o de Aracruz", explica.

"Estamos diante de problemas amplo, coletivo, e não a individualizar uma pessoa. As pessoas estão dentro de um contexto de violência, de disseminação de ódio, que ganha cada vez mais força. É um problema de ordem coletiva. As pessoas precisam ser responsabilizadas. Mas pautar a discussão apenas por esse viés é errado. Há responsabilidades do Estado. No contexto escolar, temos dificuldade de diálogo. Muitos jovens não são acolhidos e práticas violentas vão ganhando legitimidade, com os estudantes sendo 'apagados' e 'minimizados'. Precisamos de saber o que está acontecendo dentro do ambiente escolar, como assuntos como racismo, homofobia, e o bullying são trabalhados nas instituições", diz. Ouça a conversa completa!