Sítio de São José do Queimado vira Patrimônio Cultural brasileiro

Ouça entrevista com o superintendente do Iphan no Espírito Santo, Joubert Jantorno Filho

Vitória / Rede Gazeta
Publicado em 01/12/2025 às 11h12
Ruínas da Igreja de São José do Queimado
Ruínas da Igreja de São José do Queimado. Crédito: Vitor Jubini

O Sítio Histórico e Arqueológico de São José do Queimado, na Serra, recebeu o reconhecimento como Patrimônio Cultural do Brasil. A decisão foi tomada durante o 111º Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, por meio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), na última semana. A área tombada abrange as ruínas da igreja, o cemitério local e a paisagem composta por árvores de médio e grande portes no entorno. As ruínas do local remetem à resistência negra à opressão do sistema escravista no Espírito Santo. Conta a história que em 1849 havia cerca de 300 homens e mulheres escravizados que trabalhavam incansavelmente de sol a sol, movidos por uma promessa de alforria que nunca se cumpriu. Quando perceberam que a liberdade não seria concedida, insurgiram-se em uma revolta. 

A justificativa do tombamento, explica o Iphan, baseou-se em três pilares: relevância histórica e arqueológica do sítio; a importância de visibilidade nacional da Revolta do Queimado como episódio fundamental da resistência negra no país; e a necessidade de articulação entre políticas públicas, especialmente aquelas voltadas à promoção da igualdade racial. O sítio já era protegido em nível estadual desde 1992 e o município o incluiu como bem de interesse de preservação em 1990. Em entrevista à CBN Vitória, o superintendente do Iphan no Espírito Santo, Joubert Jantorno Filho, fala sobre o assunto. 

A insurreição de 1849

Durante a missa inaugural da Igreja de São José do Queimado, cujo nome é uma referência às frequentes queimadas de cana-de-açúcar da região, em 19 de março de 1849, um grupo de escravizados exigiu a carta de alforria. Liderada por Elisiário, Chico Prego, João da Viúva e outros, a revolta teria sido motivada pela promessa não cumprida feita pelo pároco Gregório José Maria de Bene, que garantiria liberdade àqueles que ajudassem na construção do templo dedicado a São José.

Os escravizados organizaram um levante que reuniu pessoas de diferentes regiões da província capixaba. A repressão foi violenta, seus principais líderes foram condenados à morte, enquanto outros fugiram e formaram quilombos em áreas como Roda d’Água e Retiro, nos atuais municípios de Cariacica e Santa Leopoldina, respectivamente.

Devido à força da insurreição, foram necessários reforços militares do Rio de Janeiro, além das capixabas para contê-la. Os rebelados foram presos e julgados, sendo cinco deles condenados à morte. Elisiário, escapou da cadeia e refugiou-se nas matas do Morro do Mestre Álvaro e nunca mais foi recapturado. Chico Prego foi capturado e enforcado, em 11 de janeiro de 1850.

O local é aberto a visitas guiadas. Para isso, os interessados devem fazer o agendamento no site https://serra.colab.re/, da prefeitura de Serra (ES). O serviço é oferecido para grupos escolares, instituições e público geral, com até 40 pessoas por grupo.

[fonte: Iphan]