"Póde Mulheres": grupo incentiva cafeicultoras no Sul do Estado
Do plantio à colheita, as mulheres botaram a mão na massa e são responsáveis por levar a bebida que tem a cara do Brasil para a mesa de muitos aqui no Espírito Santo
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Caique Verli
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Matheus Zardini
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Elas assumiram a dianteira da produção de café, um dos principais produtos da cadeia produtiva capixaba. Do plantio à colheita, as mulheres botaram a mão na massa e são responsáveis por levar a bebida que tem a cara do Brasil para a mesa de muitos aqui no Espírito Santo.
Em 2016, nasceu oficialmente um grupo de apoio para cafeicultoras do Sul do Espírito Santo: o "Póde Mulheres", que surgiu dentro da Cooperativa dos Cafeicultores do Sul do Estado do Espírito Santo (Cafesul), e conta com o acompanhamento direto do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper).
O nome é bem sugestivo, segundo Natércia Bueno Vencioneck Rodrigues, uma das coordenadoras do grupo.
É "póde" de pó de café, mas é "póde" de poder, para incentivar essas produtoras e mostrar para todo mundo que elas podem produzir um conilon de qualidade.
"Esse nome veio justamente por isso. O pó do pó de café e o pó de poder. Da mulher poder fazer diversas coisas, residindo na zona rural. Ela poder ter acesso a muitas informações. Elas tiveram cursos em diversas áreas de gestão, culinária do café. O póde de poder fazer várias coisas", explica.
E podem mesmo, viu? Podem tanto que o grupo de mais de 20 mulheres chegou a lançar um produto próprio, com café produzido apenas por mulheres em nove municípios do Sul do Estado.
O "Póde Mulheres" surgiu depois que um grupo percebeu que apenas os homens participavam das reuniões da cooperativa. Era preciso incentivá-las a tomar a frente da produção e assim ganharem independência financeira dentro de suas casas. As mulheres passaram a se reunir periodicamente na sede da Cafesul para trocar experiências. No ambiente, começaram a ter cursos de capacitação.
RENDA DA FAMÍLIA
Daiana Pinto Souza Carrari, de 28, conheceu o grupo quando ela e o marido se tornaram cooperados da Cafesul. Em novembro de 2018, ingressou no Pó de Mulheres, logo depois de ter participado do 3° Concurso de Qualidade do Café Conilon das Mulheres. Para Daiana, a cooperativa tem valorizado o trabalho dela e aumentado a renda da família.
“Um dos projetos da cooperativa com o grupo e que tivéssemos renda assim como nossos maridos. Nosso cafés são vendidos separados e pagos com o nosso nome e além das vendas e dos nossos cafés especiais a cooperativa compra merenda caseira que nós mulheres produzimos que servimos nas reuniões e palestra, isso tem gerado uma uma renda extra e com certeza na valorização do nosso trabalho” conta.
Desde que era criança, principalmente por conta da grande influência dos seus pais, Maria José Lopez Rodrigues da Silva, de 55 anos, trabalha com cafeicultura. Para ela, que sempre teve contato com o café conilon e participa do grupo Pó de Mulheres desde o início, a união entre as mulheres é a principal razão para que tenham um café de qualidade.
“Todas lutamos pelo mesmo ideal, pela qualidade. A gente se reúne, uma fala das experiências para outra e cada uma vez mais vamos somando as experiências e tentando melhorar ainda mais”, conta.
Assim como Maria, Eliane Rodrigues Lívio de Almeida, 43, entrou no grupo logo no inicio. Ela, que mora no Sítio Boa Vista, em Muqui, diz que o projeto a motiva sempre ser melhor "A sensação de ser cooperada e estar ali, em busca de conquista, novos objetivos e parceria. O grupo custeia com viagens, cursos, colabora com a divulgação do pó de mulheres e dos coffe breaks", disse.
O CAFÉ
A cafeicultura é a principal atividade agrícola do Espírito Santo, desenvolvida em praticamente todos os municípios capixabas, exceto na capital Vitória. Gera em torno de 400 mil empregos diretos e indiretos e está presente em 60 mil das 90 mil propriedades agrícolas do Estado. Ao todo, 73% dos produtores capixabas são de base familiar, com o tamanho médio das propriedades em 8 hectares. Existem 131 mil famílias produtoras capixabas.
O Espírito Santo também é o 2º maior produtor brasileiro de café, com expressiva produção de arábica e conilon. É responsável por 22% da produção brasileira. Atualmente, existem 435 mil hectares em produção no Estado. A atividade cafeeira é responsável por 35% do Produto Interno Bruto (PIB) Agrícola capixaba.